segunda-feira, 8 de junho de 2015

A volta a corrida

Síndrome do corredor: É quando você no momento que conhece um lugar, olha determinando o trajeto possível para um próximo treino, isso inclui em um curto período de segundos. Você pensa em segundos, um cálculo pessoal de altimetria, de minutos/quilômetro... Seu olhar já está calibrado como seu gps. Você pensa como poderia carregar água, quanto de carboidrato, qual carboidrato e claro no seu bônus, quais as melhores paisagens para correr? As partes mais quentes, você sabe que perto do mar tem brisa, mas se tiver corredores de árvore pode ser muito úmido, melhor ir de manga curta, longa? Para mim sempre será bermuda, mais liberdade na passada, não sobe, não desce.





E ai você aprecia seu plano. Eu moro no Rio e aqui planejar treino é algo muito fácil. Toda a cidade é fácil de correr e todos estão bem acostumados a nossa presença. O meu último trajeto foi a Urca, acordei cedo e fui correr. 

Já tinha feito um treino por lá e lembrava que era muito quente já que entra em uma rua cercada por montanhas e com árvores, o que dá uma sensação de falta de vento, o final dessa rua é a praia, tão quente quanto hehehe. Mas um visual de tirar o fôlego. Comecei a correr próximo ao metrô do Largo do Machado e fui descendo para a praia de Botafogo. Maior preocupação era achar o ritmo e voltar a dominar o corpo dizendo para ele acordar que agora a velocidade era outra depois de longos 3 meses. 

A sensação foi péssima, tentei ajustar a passada, percebi que estava larga demais para o que eu conseguia e rápida também. Encurtei e desacelerei. Vamos lá eu consigo. Deu sede. Bebi água e cheguei na praia de Botafogo. Parei para atravessar a rua... Vontade de voltar pra cama. Tempo nublado. 

Atravessei 3 ou 4 pistas de grande movimento. Cheguei na calçada da praia. Paro pra bater foto. Nunca vi essa praia sem o Pão de Açúcar, esses monumentos aqui ajudam muito a compor a paisagem, é muito lindo. Vamos pensar, agora serão alguns 3 km até a praia da urca, se quero passar dos 5 km preciso correr por dentro da Urca. Farei isso.


Corri por trás de uma churrascaria para ficar mais perto de mar, segui direto na rua que entra na Urca, resolvi ir pela calçada no meio da rua, menos paralelepípedos, minhas pernas estavam reclamando. Acho que a ideia de longão não foi boa. Poderia ter sido uma treino de tiro. Mas quem quer correr apenas curtas distâncias perto da praia?

Era meu primeiro longão depois de muito tempo, desacelerei. Melhor assim... Passei pela frente do Instituto de Física e cheguei no bondinho, muitos corredores no meu caminho, maior parte homens. Pensei que mulheres deveriam se jogar mais a esse esporte e encarar essa adrenalina. Cumprimentei todos e todos me cumprimentaram, quem olhava parecia que já conhecia todos. Os turistas no bondinho é que ficavam achando muito estranho naquela hora alguém correndo. E eu não sou nada discreta quando corro, mochila rosa, blusa laranja e branca da ultima meia maratona, bermuda azul e vermelha. Um colorido condenável. Mas me sentia a garota mais sexy da praia hahaha. E enfim cheguei. De tirar o fôlego, o sol da manhã incidia na água e a deixava cristalina, os nadadores já estavam concluindo o treino e se reuniam no meio da água. A combinação de pedra, raios solares da manhã, areia gelada, árvores, mar, como não recarregar baterias já gastas nessas semanas difíceis?

Tirei fotos, guardei o celular, voltei a correr. Resolvi dar uma volta na praça do bondinho, pude ver as pessoas espantadas na minha chegada, um olhar de não entender nada. E assim resolvi sair dessa região e realmente entrar na Urca. Peguei a primeira a direita. Cheguei no meu lugar favorito a mureta, mas não a mais famosa, a minha mureta, a mais perto da entrada da Urca, onde os garçons eram nossos chapas, levavam cerveja pra gente e nem criavam caso em carregar nosso celular. Passei essa parte e foi quando vi a primeira corredora, parecia estar terminando e corria num ritmo muito bom, sem som, sem água. Resolvi correr até o instituo de Design. Sentia um peso nas pernas, acho que não tinha acertado o ritmo. Ok, ritmo se acerta na persistência. Continuei. Vi a construção que queria, ficava perto da praia e tinha uma parte que cobria a rua. Uma vez me disseram que a rua ao lado morava o Roberto Carlos, poderia até confirmar. Optei pela orla e continuei. Foi quando percebi que nos meus cálculos tinha corrido bastante e iria faltar a volta para casa. Parei de novo. Olhei o mar e de repente senti um nariz, um dog alemão imenso resolveu brincar comigo. Muito simpático, cumprimentei-o e o dono. 
Fiz um pequeno vídeo mostrando tudo. Que manhã! Do lado de cá estava tudo claro, a neblina na verdade tinha descido e estava no meio da enseada de Botafogo por isso as margens não se viam. 

Levantei, ajeitei a viseira. Voltei a corrida, dessa vez de volta. Muitos dos que encontrei na minha chegada, carregavam o pão e o café. Carioca é assim, ele adora comprar comida na rua, fazer refeições em geral na rua, comprar seu pão com manteiga para comer em casa. Sigo com esse cheiro pelo percurso. Penso agora no que vou comer quando chegar... Então faço o caminho de volta. E dessa vez entro na rua que dá para parte de pescadores, volto para a rua principal, encontro dois corredores de antes e pergunto se estão encerrando, estão vermelhos e suados, eles fazem um  grande esforço para me responder. 

Volto pelo mesmo caminho, passo o instituto, encontro maratonistas, inconfundíveis com a pouca roupa e excesso de suor, além do corpo  muito magro e a passada perfeita. Acho que já estão voltando. Cheguei na minha passagem, um senhor nessa passagem me olha incrédulo. Chego no lado de botafogo e vejo a Urca do outro lado, sim a neblina foi embora. 

Ok, está começando a ficar quente. Penso num banho. Ando um pouco, afinal não é o ritmo que estou acostumada mais. Sinto uma pressão no meu joelho. Droga, músculos mais fracos. Volto a correr, atravesso as ruas e chego no Flamengo, resolvo comprar frutas.: caqui e melancia. 

Que volta memorável, estou pronta para o dia com meus 9,5km depois de 3 meses sem nada.